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3 poemas de praga, por jardel dias cavalcanti

O inconsciente de Praga

 

 

Tenho dormido profundamente e muito

Às vezes acordo e olho pelo vidro da janela –

Na bruma sempre surge uma figura

Parece querer me dizer alguma coisa –

Me aperto lentamente contra o vidro

Tento pensar em algo

Que me leve para o fundo de mim mesmo

Sou um animal silencioso

Com pretensões próprias

Mas corro de lugares onde as janelas ficam abertas

Volto para a cama.

Preciso oscilar um pouco mais.

Noturno de Praga

 

 

O vento gelado persegue um gato sobre o telhado

Palácios dormem

Suas pedras enormes quebraram ombros

Falam da História

Igrejas alçam voo até as nuvens

Mas não abdicam de sua matéria

Como um anjo sem asa

Não me converto ao espírito

As árvores são sombras na escuridão

Mostram caminhos duvidosos

Em silêncio escuto a morte

É uma clareira

Na noite que se inclina sobre mim.

Ao espelho em Praga

 

 

Minhas mãos, reconheço-as e

Minha face é a de um estrangeiro?

Minha boca fala ainda uma língua?

As rugas um mapa de minha alma?

As fotos na parede do hotel são reconhecíveis: Kafka e Rilke

Um belo rosto no cartaz visto através da janela

Anuncia um produto de maquiagem

A noite desce sobre as ruas

Nenhum barulho

“Silêncio!”

Vejo meu reflexo enquadrado no vidro do espelho

Sei que estou pronto para me olhar

E não me reconhecer.

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