
marina stuchi
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Acredito que somos feitos de influências de tudo aquilo que vemos, lemos e ouvimos. Eu, enquanto mulher, posso dizer que há cerca de dois anos que comecei a me “educar” para ler mais mulheres, assim como para pesquisar mulheres artistas e suas influências. Ainda hoje, a produção cinematográfica é feita majoritariamente por homens e se não nos questionamos sobre esse fato acabamos por nos influenciar muito dessa visão e de uma certa maneira de fazer cinema. Atualmente mais mulheres entraram no mercado e estão ocupando os diversos segmentos numa produção audiovisual, assim como existem diretoras nos variados gêneros do cinema. Então, respondendo a pergunta: acredito sim que existem lentes diferentes para o registro cinematográfico que passam pelas subjetividades de cada um e de suas influências culturais e estéticas. Mas, não defendo que exista um cinema feminino, mesmo porque entraríamos no debate sobre o que é ser feminino e os estudos de gênero já colocam em questão a própria idéia do que é ser feminino. Portanto, o cinema feito por mulheres é plural, ocupa os diversos gêneros cinematográficos e explora linguagens e estéticas variadas.
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Sim, existe. Gosto muito de explorar locações típicas da cidade ou mesmo homenagear lugares emblemáticos para mim. Penso que conto uma história a partir do lugar no qual vivo. Nos roteiros que escrevo sempre procuro homenagear a cidade de alguma maneira, por exemplo no curta metragem A manicure fiz questão de mostrar os edifícios do Centro Comercial porque acho que é um lugar de referência para os londrinenses. Estou desenvolvendo um outro roteiro no qual pretendo contar a história de Londrina pelo olhar das pessoas que foram marginalizadas pela sociedade de alguma maneira.
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A produção audiovisual em Londrina está numa fase muito boa. Ano passado participei da produção de pelo menos 5 curtas metragem. Há mais mulheres sim produzindo na cidade, todas muito talentosas e o que é mais interessante: com linguagens bastante diferentes entre si, o que é bastante enriquecedor para a área do cinema, pois mostra que o ser mulher não é o que define unicamente sua linguagem, mas sim as referências que acumulamos durante a vida.
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Vou começar aqui por Londrina: admiro muito o trabalho da minha amiga Celina Becker, que fez um filme lindo sobre o nazismo em Rolândia. No Brasil gosto muito do trabalho da Laís Bodanzki, Lúcia Murat, Anna Muylaert e Petra Costa (só pra citar algumas). No mundo, pra se ter uma idéia, a primeira mulher a ganhar um Oscar de melhor direção foi Kathryn Bigelow em 2010 com Guerra ao terror. O número de diretoras cresce a cada ano, mas ainda é muito pequeno em relação ao número de diretores homens. Em 2011, Susanne Bier, diretora dinamarquesa, ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro com o filme Em um mundo melhor. Gosto bastante do trabalho da Sofia Coppola e das suas influências cinematográficas. O trabalho de Lynne Ramsay em Precisamos falar sobre Kevin é primoroso e um dos filmes mais surpreendentes que assisti. Importante ressaltar que as mulheres sempre estiveram presentes na história do cinema, desde o seu início, mas muitas foram esquecidas ou apagadas da história, fato que não é nada incomum na história das artes. Podemos citar o nome de Alice Guy-Blaché, diretora entre 1894 e 1922, primeira mulher a dirigir filmes na França, talvez a primeira a dirigir um filme no mundo. Todas as diretoras citadas e ainda muitas outras que deixei de mencionar tem suas características próprias, uma estética particular, um lugar de fala sobre o que é ser mulher e como cada uma enxerga o feminino, e é exatamente essa pluralidade que é enriquecedora, pois vem justamente para desmistificar o que é ser feminino.
marina stuchi dirigiu a manicure (2018), eleito melhor filme pelo voto popular no 20. festival kinoarte de cinema