
pelas paredes da cidade: entrevista com leo p. (@fugaz)
@fugaz é o nome de rua de leo p., 21 anos, estudante. um jovem curioso e ressabiado que tem deixado suas marcas em locais abandonas e muros da cidade de londrina, pr
Como foi que você encontrou a rua como local de expressão?
Cresci na periferia da cidade de Londrina, onde vivi e ainda vivo o graffiti/pichação sempre foi presente em suas mais variadas formas.
Desde que me entendo por gente, a linguagem, arte, formas de expressão em geral me despertam curiosidade e fascínio. Acredito que tudo isso somado ao meio social que estou inserido guiaram meus caminhos até encontrar nos muros formas me expressar artisticamente e formas de interferir do espaço em que vivo.
Qual a relação entre a cidade e sua arte?
Acredito que tudo o que é construção humana é uma forma de expressão, logo, arte.
Ao enxergar a cidade como uma imensa construção artística, parto da reflexão de que é impossível construir uma forma de expressão que represente a todos, tendo em vista que, apesar de vivermos em sociedade, somos seres individuais, cada um em seu universo de particularidades que formam formas de expressão únicas e exclusivas de cada ser humano. A forma que a cidade é conscientemente construída não reflete a realidade inconsciente de cada um, com casas e edifícios que seguem um padrão, é construída de maneira a colocar certa ordem na sociedade, ordem esta que é aparente, mas sabemos que de fato não existe, assumindo que perante a pluralidade de perspectivas e da aleatoriedade do dia a dia, não há como ordenar o caos que é existir e ser humano.
A relação da minha arte com a cidade é justamente a quebra dessa falsa ordem, ao inserir um elemento artístico no campo visual das pessoas, eu quebro um padrão e passo a chamar atenção de alguém que geralmente passaria por qualquer lugar que seja sem se dar conta do que está ao seu redor. Elemento artístico esse que pode vir a divergir sobre ser ou não ser arte, de acordo com a concepção que cada individuo carrega sobre oque é e não é arte. Sendo também esse elemento artístico objeto de reflexão cotidiana.
Como você percebe a relação política e arte no graffiti?
O que o artista quer são meios que ele possa utilizar para manifestar sua arte.
O graffiti usa dos muros e paredes como o ator usa o palco em uma peça de teatro, a diferença entre eles é que o ator não é criminalizado por isso.
A maioria dos artistas urbanos não tem um alvo específico quando fazem sua arte, ele utiliza do espaço que lhe é permito usar, em função de leis que o limitam, por tratar-se de uma arte marginalizada vista como poluição visual e nada além disso de acordo com a perspectiva do Estado. Isso no caso do graffiti, a PIXAÇÃO é uma questão completamente diferente, onde a intenção é justamente transgredir a lei e poluir o espaço.
Obviamente existem outras maneiras de ver esses fatos, de artista para artsta, de arte para arte, é particular.
A ocupação de espaços abandonados pelo graffiti e outras formas de arte se da justamente por tratar-se de espaços esquecidos pela sociedade e pelo Estado. Trata-se de um espaço onde apesar de a lei alcançar, ela não está presente, como o próprio nome já indica, é um espaço jogado ao abandono e ao esquecimento, onde é possível utilizá-los para fugir da burocracia e repressão dos espaços públicos. Talvez isso reflita a realidade do que é ser artista urbano no século XXI, ao recorrer a espaços abandonados, tão marginalizadosquanto a própria arte urbana, e por tratar-se de marginalização, impossível não lembrar das favelas e comunidades que aparentam certo esquecimento do por parte do Estado.
Ironicamente, quando é de interesse de grandes empresas privadas, recorrem ao graffiti e chamam até de “revitalização” de espaços abandonados, como foi o caso do “Quarteirão das Artes” de Londrina, que antes tratava-se de um quarteirão com fundos de barracões que não eram esteticamente atrativos ao shopping e ao hotel localizados em frenteao painel. Este espaço era anteriormente utilizados por moradores de rua como abrigo. Neste caso as burocracias são facilitadas, a repressão deixa de existir e passa a ocorrer a valorização da arte e do artista urbano, com disponibilização de equipamentos e investimentos de estrutura para a realização do painel. Ou seja, quando é de interesse do Estado e de empresas o graffiti passa a ser valorizado como arte e tem seu potencial de transformação do espaço reconhecido, mas, quando é de inciativa do próprio artista é artigo de crime? Fica ai o questionamento.
Como foi a experiência de participar da ocupação das paredes dos barracões próximos ao Marco Zero?
Foi uma experiência incrível, foi o primeiro grande evento que participei, apesar de não ter feito parte dos convidados o fato de estar entre grandes mestres me somou grandes aprendizados, foi uma oportunidade de conhecer ainda mais sobre o universo que é a arte urbana e seu poder de transformação. Me permitiu também refletir sobre o que tornou possível o projeto





